sexta-feira, 31 de julho de 2015

Crise dos 19



Quando somos crianças, não vemos a hora de fazer 10 anos, para não sermos tão mais crianças. Achamos que vamos ganhar mais mesada, que nossos pais vão deixar a gente ficar mais tempo na casa dos amiguinhos, que vão aumentar nosso tempo no computador. 10 anos é a idade da última festinha de criança com docinhos e bolo, então, nossa, como estamos crescidos. Depois, vem a expectativa dos 13 anos. Vamos ser adolescentes, nossos pais vão parar de nos tratar como crianças, vamos poder sair sozinhos com os amigos, a mesada vai aumentar – de novo -, você está quase no ensino médio. A idade dos primeiros beijos, primeiros namorados, primeiros relacionamentos difíceis, suas amizades começam a mudar, você começa a mudar. Passa a gostar de coisas que não gostava antes, começa a usar maquiagem, quer usar uma roupa mais curta, um salto alto. Abandona tudo o que é de criança, pelo menos na frente dos outros, porque agora é adolescente.
Talvez 15 anos seja a melhor das expectativas. Que presente escolher? Festa ou viagem? Os namoros parecem ser muito mais sérios, a pressão do ensino médio, já começam a cobrar com a famosa frase: “O que você vai prestar no vestibular? Está logo ali, só mais dois anos”, tudo parece ter uma proporção gigante. Estamos esperando – de novo – que nossos pais parem de nos tratar como criança, porque, manhêê, já tenho quinze anos. A gente acha que ta no ápice do amadurecimento e que podemos fazer tudo o que quisemos na vida, mas nossos pais não veem isso. Começamos a esperar pelos dezoito anos.
E os 18 anos é a idade mais decepcionante que você pode esperar. Com ele, vem as responsabilidades: você tem que marcar suas consultas no médico, suas contas: você que paga, se você ainda não passou no vestibular, a pressão fica ainda maior. Sim, você está na maioridade, mas nada vai mudar muito. Você vai perceber que a vida social que você achava que teria depende do dinheiro, e só se seus pais forem muito caridosos que eles vão te dar dinheiro para sair todo fim de semana. Idas ao banco, burocracia, documentação, tudo é você que faz agora, querido. Te vira.
E essa é a última idade mágica. Depois, todo ano que passa vai ser só mais um. Qual é a graça de fazer 19 anos? Nenhuma. Qual é a graça de fazer 20 anos? Provavelmente nenhuma. E a vida vai continuar assim. As idades mais aguardadas acabam aos 18 anos. E é a partir dai que você percebe como a vida passou tão rápido que você nem percebeu. Ano passado, 18 anos. Maioridade. Esse ano, 19. Próximo, 20, depois 21, 22, 23… E eu ainda não fiz nem metade do que eu queria ter feito até os 18. Não tenho a ideia praquela tatuagem que queria fazer quando fizesse 18, não tenho um namorado, tem gente se casando a minha volta e eu estou no cursinho, não moro sozinha, não tenho um trabalho. Eu estou ??????? na vida. Sabem, o sentimento de ?????. Então. É assim que eu me sinto.
As pessoas pararam de me perguntar sobre os namorados porque perceberam que eu realmente não tenho um – não que eu estou escondendo ele dos meus pais -, pararam de perguntar meus planos para o ano que vem. E é por isso que estou em crise. Que ninguém me avisou que viria.
Sim, sei que tem a crise dos 20 – e acredito que a minha crise dos 19 seja uma antecipação dessa -, a crise dos 30, dos 40, da meia idade, sei de todas essas. Não a que estou passando agora. A incrível vontade de ter meu quarto inteiro reformado, de fazer um piercing, mesmo que eu já tenha desistido da ideia, de viajar sozinha sem rumo, sem dinheiro, de ser um pouquinho inconsequente porque eu cansei de ter que cuidar de mim mesma – e só faz um ano!
Talvez ano que vem eu vá estar na faculdade, talvez eu jogue tudo pro alto até a crise dos 20, talvez eu faça aquela tatuagem inconsequente, talvez eu vá sair e ficar bêbado. E a única certeza é que estou fazendo 19 anos, e isso me assusta mais que o vestibular.

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